sábado, 22 de dezembro de 2012

A PRESIDENTE DA PETROBRAS QUER AUMENTO DA GASOLINA, VOCÊ ACHA CERTO? LEIA A ENTREVISTA.


Graça Foster: ‘É importante que tenhamos reajuste da gasolina em 2013. Defasagem é de 6%’

  • Segundo a presidente da Petrobras, a importação do combustível cresceu 56% este mês
  • Para a executiva, é preciso resolver questão dos royalties para ir ‘com tudo’ nos leilões


Óleo no chope: segundo Graça, “as ações da Ambev têm um valor justo. E as da Petrobras têm um valor injusto”
Foto: Ivo Gonzalez
Óleo no chope: segundo Graça, “as ações da Ambev têm um valor justo. E as da Petrobras têm um valor injusto” Ivo Gonzalez
RIO — Na última sexta-feira, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, estava cedo na sede da companhia, no Rio, após chegar de viagem a trabalho ao exterior às 4 horas da madrugada. Em entrevista ao GLOBO, Graça falou dos planos para 2013, admitiu que a defasagem no preço da gasolina é de 6% e disse que a importação do combustível cresceu 56% este mês, para 178 mil barris por dia. Ela adiantou ainda que a estatal vai explorar gás em terra.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já prometeu reajuste da gasolina em 2013. Qual é a defasagem dos preços?
Foi premissa do plano de negócios (2012-2016) ter um reajuste de 15% para gasolina e diesel nesse período. Em junho, tivemos reajuste de 3,94% do diesel e de 7,83% da gasolina. Em julho, tivemos outros 6% no diesel. Então, tem uma diferença de 4% no diesel e de 6% na gasolina. Não estou dizendo que isso é aumento. Esse valor é a diferença, que pode ser dada de uma vez só ou em longas etapas (até 2016). Essa parte não tem dia nem hora para ser dada. Quanto mais agora (ser dado o reajuste), melhor para a Petrobras.
Mas seria bom que viesse já em 2013?
É importante que tenhamos reajuste de combustível no ano que vem, como disse o ministro da Fazenda. Agora, não sei quando. E a Petrobras não tem problema de caixa hoje por falta desse reajuste.
Hoje, estamos importando gasolina, pois não temos refinarias suficientes. Como ficarão as importações em 2013?
Ano que vem, as importações crescem menos em relação a 2012. Mas vão crescer. Em novembro, importamos 114 mil barris de gasolina por dia. A média projetada para dezembro (até dia 21) é de 178 mil barris por dia. Cresceu 56% de um mês para o outro devido a verão, sazonalidade e férias. A média do ano vai superar 80 mil barris por dia.
Qual será o investimento em 2013?
Neste ano, a realização foi muito grande. Vamos fazer muito perto de 100% do orçamento. O valor aprovado foi de R$ 85 bilhões, e vamos atingir isso. E o investimento (para 2013) é na mesma faixa deste ano. Temos cobrado muito e estado perto das empresas.
Além do pré-sal, há novas fronteiras?
A diretoria aprovou nesta semana a restruturação de um grande projeto de gás onshore (em terra) no Brasil, considerando o gás convencional e o não-convencional. Estamos na busca de gás em terra, e o grande desafio é saber qual o menor custo de produção.
E a Petrobras já faz levantamentos?
Há três anos, estamos fazendo um trabalho de mapeamento das bacias sedimentares brasileiras de áreas concedidas em terra (que são poucas). Tem muito ainda a ser concedido nos próximos leilões. Queremos dar um caráter econômico a essa avaliação, quanto custa produzir, quanto precisa ser investido.
Então, a Petrobras pretende se voltar para exploração de gás em terra?
Esse programa aprovado trata fundamentalmente da avaliação das oportunidades e dos custos para a produção de gás onshore no Brasil.
O novo plano de negócios da Petrobras (2013-2017) prevê novos projetos?
No primeiro semestre de 2013, vamos apresentar o plano de negócio de gestão 2013-2017. Não tem projeto novo e não terá. No ano que vem, vamos trazer o plano estratégico com horizonte 2030, que é extremamente importante. E uma consequência desse plano já é o programa de gás onshore. Evidente que no ano que vem não tem nenhum investimento onshore. Já estamos no limite da financiabilidade do plano.
De onde virão os recursos para investir?
A geração de caixa é importante. É o coração da empresa. E vamos ao mercado. Em 2013, a previsão (de captação) é em torno dos US$ 18 bilhões. O desinvestimento é fundamental que aconteça também, que são os US$ 14,6 bilhões previstos. Reestruturação de projetos também. Um exemplo: saímos 100% dos blocos Oliva e Atlanta (ambos na Bacia de Santos).
Como a senhora vê o fato de a Ambev ter ultrapassado a Petrobras em valor de mercado na Bolsa?
Eu entendo que as ações da Ambev têm um valor justo. E as da Petrobras têm um valor injusto. Esse valor é consequência da insatisfação dos nossos investidores conosco, que olham um lado que não é estruturante, pois a produção menor passa. Em 2013, a política exploratória vai dar previsibilidade de poços secos.
E quais os motivos para essa insatisfação?
Temos uma grande importação de gasolina e diesel e não repassamos para o preço. As margens estão comprimidas. A nossa produção caiu profundamente nos três primeiros trimestres deste ano por atraso das 14 sondas de perfuração e nós tivemos paradas. Não abro mão delas, pois é pior não parar e você perder o comando. Aconteceu número relevante de poços secos. Teve ainda o câmbio, que afeta o resultado financeiro da companhia. Isso deixa o investidor aborrecido com a Petrobras. Não adianta tapar o sol com a peneira. O importante é reconhecer, aceitar e definir quais as ações para se recuperar.
A visão do mercado é de curto prazo?
O mercado quer ver óleo produzido e previsibilidade no realinhamento de preços. O governo é o controlador. É o dono da Petrobras. Ponto. A ingerência do governo, como é dita, eu não chamo de ingerência, chamo de gerência.
Qual será a produção em 2012 e 2013?
Vamos bater certinho dentro da meta de 2,022 milhões de barris diários. Este mês está com uma produção excelente. Agora, essa meta pode ficar 2% para mais ou para menos. E em 2013 será o mesmo nível. A produção vai crescer efetivamente a partir de 2014. O pré-sal também tem se revelado mais suculento do que a gente imaginava. O potencial é mais alto, e isso para uma empresa de petróleo faz a diferença porque é um investimento muito grande.
Em 2013, haverá muitas paradas nas plataformas para manutenção?
Vamos cumprir rigorosamente as paradas programadas. Serão cinco ou seis no primeiro semestre do ano. É igual ao carro. Eu já passei muito tempo na minha vida sem fazer manutenção no carro por causa do dinheiro. Agora não tenho carro, mas se tivesse faria manutenção. Quando se cumpre a programação das paradas, há mais previsibilidade.
Mas antes não havia paradas?
Não parava, parava muito pouco. Se esticava ao máximo a produção. Não dá para não parar, não dá ficar mais de quatro anos com uma unidade de produção sem parar. Porque o custo e o tempo para recuperar a integridade estrutural é muito grande.
A Petrobras está com dificuldade em atender ao mercado de gás?
A Petrobras não tem qualquer dificuldade para atender ao mercado. Parte dos contratos de fornecimento de gás são flexíveis (que permitem a redução na oferta), mas não vamos precisar disso.
O ministro da Fazenda disse que pretende reduzir os preços do gás. É possível?
Nós somos importadores de gás da Bolívia com preços formados nos contratos. Compramos GNL (gás natural liquefeito) no mercado livre, sem contrato. A parcela menor de gás nacional é associado ao petróleo e está em águas profundas, custa caro. A gente não tem uma nova fonte de gás a um custo menor. Se tiver, teríamos condições em função da escala de baixar preços.
A diretoria internacional vai acabar?
Não existe a menor possibilidade.
Vai vender quais ativos na Argentina?
Queremos ficar em Exploração e Produção. É a nossa prioridade. As negociações sobre os demais ativos fazem parte do programa de desinvestimento da Petrobras Argentina.
Como a senhora vê a discussão sobre os royalties do petróleo?
À Petrobras interessa ter uma indústria de petróleo e gás resolvida. Que o conteúdo local seja compreendido como condicionante de rotina e que royalties se resolvam. Queremos que haja os leilões em 2013 e em 2014. A gente tem que entrar com tudo o que pode.
O GLOBO- RJ.


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